Em primeira análise, especialistas criticam projeto da quarta ponte por privilegiar apenas os carros. O edital de licitação para a obra será lançado pelo Governo do Estado na próxima segunda-feira.
Especialistas apontam que o projeto da quarta ponte Ilha-Continente, cujo edital de licitação para a obra será lançado na segunda-feira, privilegia o uso de automóvel, ignorando as pessoas e sua mobilidade. Essa é uma primeira avaliação feita com cautela, já que ainda não foram divulgados maiores detalhes sobre a construção que ligará a Beira-Mar Norte e a Beira-Mar Continental.
Elson Manoel Pereira, professor de geografia da UFSC e especialista em planejamento urbano, observa que o projeto não se diferencia do que se tem apresentado ao longo dos anos.
— É uma solução rodoviarista, dos anos 1960. O plano do Gama D'Eça, de 1969, por mais crítico que eu seja, era melhor. Ele pensava a região metropolitana, não restringia só às pontes. Foi este plano que colocou, por exemplo, a área industrial em São José e Palhoça — diz.
Você acha que a quarta ponte vai amenizar o problema de trânsito em Florianópolis?
Para Werner Kraus Junior, professor Departamento de Automação e Sistemas da UFSC e especialista em Sistemas Inteligentes de Transportes (ITS), "seria um orgulho se o governo do Estado apresentasse a imagem de um sistema de transporte coletivo e integrado com a região metropolitana".
— Mais uma vez, o automóvel é o centro das atenções. A solução proposta é um tanto preguiçosa, pois não se esforça para resolver o verdadeiro problema: a mobilidade das pessoas, e não dos automóveis.
O professor explica que essa é uma mentalidade corrente, da qual Florianópolis não consegue se desvencilhar. No Brasil, 83% dos investimentos em obras viárias privilegiam o automóvel, e o pouco que resta fica com o transporte público.
— A ponte deve resolver o problemas dos congestionamentos na entrada e saída da ilha, pelo menos em um curto espaço de tempo. Talvez um ano. Mas, como mais carros vão entrar na ilha, isso vai gerar congestionamentos em diversos pontos, como as SCs 401, 405 e 404 (Rodovia Admar Gonzaga) e outros polos geradores, como shoppings e universidades.
Zena Becker é vice-presidente da FloripAmanhã, organização não governamental empenhada na melhoria da qualidade de vida da cidade.
— Trata-se de mais um projeto pontual e sem planejamento integrado. Se a construção de elevados e pontes funcionasse, Florianópolis não estaria nessa situação — observa.
Para o gestor de negócios Hélio Leite — que até o ano passado participava como representante da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) na comissão de Criatividade e Imagem da FloripAmanhã —, esteticamente a nova ponte vai mexer na paisagem entre Ilha e Continente:
— A Ponte Hercílio Luz, entre as duas pontes hoje existentes e a nova, ficará espremida. Pelo menos se resolvesse o problema da mobilidade das pessoas, seria bom.
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